ORAÇÃO DA SOLIDÃO

A solidão, que enlaça o retrato da vida,
não suporta o tempo no canto da sala.
Nem pela paixão que se esvai desapercebida,
sufocando escorregadia a minha fala.

E mudo no silêncio que rompe o hímen timpânico,
(Sopro dum grito do eu-vizinho)
onde a solidão alvoroça com a voz em pânico,
preferindo espelhar imagens a fenecer sozinho.

Ora, imagens abestalhadas,
não me tomem pelas ilusões da amargura,
nem me vejam pelas frestas das lembranças
ao empurrar-me no fundo da sala escura.

Pois vejo uma arranhura da tontura alucinante,
que fora fabricada pelas fendas da lembrança:
Contorcendo a membrana da lágrima pulsante,
pulsando solitária como soluço de criança.

Acalmem-se, profanices ilusórias!
Quanta solidão que não diz nada!

Muda, profunda moribunda da fala,
abrindo com a mão a cortina do solitário,
fechando com as pálpebras a pele do armário e
guardando a história ainda não revelada.

Amar a mim mesmo por não ter um espelho?
Não.

Eu sou um armário mudo, feito um criado.
De retro, símbolo de dor!

Que sem fôlego dum solitário amarrotado,
reviro a lembrança simbólica do orgulho,
tonteio com a cólica desdita no obscuro e
a escondo no armário apavorado.

Sem fim, permaneço no meu conhecimento,
conheço-me no auge da resignação,
bebo as imagens alucinógenas do sofrimento e
visto a capa fria da solidão.

Solitário, tento escorar minha precipitação.
Ah, quão bondosa e perversa solidão,
que encontrou-me antes do chão
e me sustenta de pé na alucinação.
Autor Convidado: Jorge André Fischer

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