“Um certo Sadhu (Mestre, Rishi), Ramananda Dasa, atuava em uma escola para crianças e adolescentes em um bairro pobre de Mumbai, Índia… vivia muito ocupado com suas atribuições docentes, pois também orientava os professores mais novos e a administração geral em matérias de gestão.
Seu preparo e garbo eram incontestáveis e o respeito e a admiração de todos lhe eram facultados cotidianamente, o que lhe facilitava sobremaneira seu trabalho. Não enfrentava problemas de qualquer natureza, especialmente com os alunos, reunidos em classes de 30 a 40, em todos os períodos… exceto por um deles, com quem se via às voltas, a chamar a atenção e controlar atitudes e atos impensados.
Seu nome era Mukhtar, um rapazinho muito ativo e inteligente, porém descontrolado nas emoções e no comportamento em sala-de-aula, às vezes muito inoportuno: invariavelmente chegava atrasado, não cumpria com os deveres regulares, apresentava opiniões e perguntas a todo o momento, muitas vezes interrompendo as preleções do Sadhu.
Um dia, após ter sido advertido fortemente pelo seu Mestre, como já era de habitual costume, Mukhtar esperou pelo final da aula em sua classe e pediu uns momentos com o Rishi, que já se preparava para a próxima… Aproximou-se de Ramananda Dasa e, humildemente, falou: “Sadhu, sei que estou atrapalhando muito as suas aulas com meu jeito falador e atrapalhado de ser… mas não quero mais lhe incomodar e vou entender se você me expulsar daqui… vou sentir muito, porque gosto muito de suas aulas… mas se for o meu destino, nunca vou esquecer você e sempre seguirei o que me tem ensinado…”, finalizou Mukhtar, com os olhos vermelhos de emoção.
Ramananda Dasa parou tudo o que fazia, sentou-se à cadeira de Mestre diante de Mukhtar e lhe disse, calma e firmemente: “Realmente, Mukhtar, um dia desses até pensei em fazer isto… mas o seu caso não é de expulsão, mas sim de acompanhamento e orientação firme e constante… além disso, tenho que lhe dizer algo, mas se você comentar isto, terei que puni-lo por quebrar minha confiança…”
Os olhos de Mukhtar brilhavam de emoção e quase não conseguia mais se conter de alegria pelo Sadhu demonstrar tanta confiança em sua pessoa.
Continuou o Rishi: “…dentre todos estes alunos comportados, que se mantém calados e atentos e fazem as suas tarefas regularmente… [ mas somente as que lhes foram atribuídas e sem nenhuma iniciativa adicional... e que somente respondem quando questionados... e que não se arriscam em nada, pois só respondem o que já sabem ]… você é o ÚNICO deles que se mostra REALMENTE como É: transparente, verdadeiro, honesto, franco, direto, corajoso e confiável.”
Por isso — continuou o Sadhu — o seu destino é o de seguir aprendendo e lapidando esta pedra preciosa que traz dentro de si: a devoção ao Conhecimento e à Verdade, muito clara na sua busca constante de informações e dos reais motivos e causas de todas as coisas…”
Mukhtar já não podia se conter e prostrou-se aos pés do Sadhu, agradecendo e chorando copiosamente de alegria e reconhecimento.
“Levante-se, meu Filho — disse o Mestre —, pois tenho algo mais a lhe dizer: além de você sempre haver buscado o Conhecimento e a Verdade, você também demonstrou as virtudes mais nobres de Lord Hanuman em sua Alma: a devoção pura e sincera a um Mestre e o seguimento aos seus ensinamentos, procurando trabalhar suas próprias imperfeições e exemplificando isto, sem perceber, a todos à sua volta…”
“Estas virtudes são as mais nobres que alguém poderia ter aprendido nesta escola e em toda uma Vida… e, por causa delas, agradeço também a você por me haver mostrado, sem ter se dado conta, que a sua presença em minha classe era o meu maior desafio, aquele que me faria esquecer o orgulho fútil e as adulações tolas… e que me fizeram também crescer espiritualmente e controlar os meus impulsos mais impuros ao ralhar com você e quase realmente expedir sua expulsão.”
Naquela tarde, Ramananda Dasa e Mukhtar foram ao templo de Hanuman e, juntos, ofereceram um puja (oferenda) ao Deus da Coragem, da Devoção e da Confiança.
Jai Jai Jai Hanuman Ki!
Autor Convidado: Luiz Botelho
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