OS ROMANOS

(Aos meus verdadeiros amigos)

Somos os remanescentes nascidos nos anos
Oitenta
Que viram a revolução Tecnológico-digital
Chegar sem que tivéssemos
Contato com ela
As margens de um mundo novo
E espetacular que seria negado a nós.
Somos aqueles nascidos em bairros pobres
De cidades pequenas
Estudando a noite após um dia inteiro de trabalho,
Sem estimulo,
Sem sonhos de grandes profissões
Tentando concluir o segundo-grau
Para conseguir um emprego na
Fabrica de Vagões ou na Cia de Papéis,
Nossa única esperança de emprego
Em Cruzeiro.

Foi assim que vi minha geração na
Vila Romana:
Sem perspectiva, embriagando-se
Em bares ou fumando maconha
Nos muitos terrenos baldios e
Escuros de lá.

Ouvindo as pessoas que viviam no centro da
Cidade ou em bairros ricos
Olharem-nos com desprezo e insegurança
“Gente de Vila” era como se referiam a nós
Achavam que éramos todos marginais,
Mas não viam que a grande maioria era de
Trabalhadores que tiveram pouca ou
Nenhuma oportunidade na vida
E agora, viam seus filhos seguindo pelos mesmos
Caminhos
Engravidando suas vizinhas ainda adolescentes
E gerando mais uma geração de mães solteiras
Ou de casamentos frustrados e desestruturados.

E passavam suas vidas rezando para conseguirem,
Pelo menos, se
Aposentar.
E morriam dia após dia sentados em frente a
Televisão esperando a novela acabar para
Dormirem e descansar para mais um
Dia de trabalho.

Mas tinham aqueles que seguiam por caminhos
Piores
E tornavam-se alcoólatras ou viciados
E viam em pequenos furtos a realização pessoal
Imediata que tanto era valorizada
E roubavam garrafas vazias ou botijões de gás
De seus vizinhos,
E iam aos bairros ricos de madrugada para
Roubar “roupas de marca” dos
Varais
Ou então roubavam bonés importados
Dos “playboyzinhos” bundões nas ruas.

Assim as pessoas honestas que viviam nas Vilas
Foram estigmatizadas
E quando se encontravam com as pessoas
Do Centro da Cidade em suas panelas fechadas,
Eram logo rechaçados e isolados,

Mas eu também vi os filhos dos ricos se
Meterem em encrencas,
Mas enquanto eles se embriagavam e vomitavam
Em bares “chiques”,
Nós nos embriagávamos nos botecos,
E enquanto eles eram resgatados por seus pais
Em caros do ano,
Nós ficávamos nas sarjetas, deixados a sorte
E enquanto nós fumávamos maconha nos terrenos
Baldios,
Eles fumavam maconha em seus carros em estradas
Desertas ou em seus sítios,
E cometiam abortos
E também furtavam, mas furtavam de seus próprios pais
Dentro de suas casas e
Ninguém ficava sabendo.
E fizeram faculdades
E se tornaram doutores
Pessoas respeitáveis da cidade,
Enquanto nós pelejávamos na vida das Vilas...

Quando parti vi todos ficarem para trás
Com alegres lembranças
E meus amigos da Vila Romana
Que nunca iriam se separar,
Agora estavam distantes...
Cada vez mais distantes...

Agora, muitos deles também se foram
De um jeito ou de outro:
Perdidos em bares,
Perdidos nas drogas
Presos
Ou mortos.

Outros continuam por ai, alguns se deram bem
Outros não.
E para os que ficaram às vezes os encontro
Quando volto a Cruzeiro
E independente de como estão se alegram em me ver.
Às vezes não me reconhecem ou apenas me ignoram,
Mas os que vem até mim, me olham e acham que venci
Na vida.
Mas na verdade
Eu só não fui derrotado por ela.

Convidado: Wagner R. Souza
http://www.wagnerrsouza.blogspot.com/

2 comentários:

Profª Simone Suelene disse...

Muito bom. excelente exposição, simples, sincera .
bjos

ALEXANDRE WAGNER MALOSTI disse...

Wagner... parabéns.... Já tinha gostado muito quando você leu no Sarau das Sextas.... Parabens mesmo...