O PRESENTE DE LUCIMARA

Você que poderia ganhar tanta coisa
vai ganhar agora de um sub poeta
um sub poema
como presente de Natal.

Talvez você quisesse
receber muito bem embrulhado um vestido
cujo tecido leve moldaria seu corpo,
acrescentaria elegância
e te deixaria exatamente como você é,
livre, como se não houvesse roupa
sobre o corpo
e sua alma desfilasse nua
de qualquer prisão ou mentira.

Quem sabe um livro, uma jóia, um quadro
de algum desconhecido artista rústico
e talentoso você preferisse ganhar.

Tantos presentes esperam por você
nas vitrines da cidade, ofertas do shopping
e nas muitas lojas. Basta pegar o cartão de credito
e se presentear a si mesma
ou aguardar a meia-noite e o entorno da mesa
onde muito abraço vai ser dado, beijos,
e repleto de muito carinho e revelações
um punhado de coisas, simples ou não,
que lhe serão dadas
e marcarão o momento.

Mas eu, mesmo que pudesse lhe dar
outra coisa, prefiro fazer de conta que sou poeta
e de algum lugar arrumar palavras
que sejam mais sinceras que um vestido,
um quadro, um cd, uma jóia...
Alguma palavra que seja luz e se dê bem
com o nome Lucimara. Alguma luz
que seja mais do que palavra
ou as duas coisas se fazendo numa só.

Eu, portanto, prefiro procurar pelo seu presente
em outro lugar e ficar
diante da tela do computador tentando
traduzir para o real
a Lucimara que tenho na memória,
sua imagem, o seu corpo, a sua voz,
os óculos que você mantém sempre sobre a testa,
os vestidos largos e estampados,
a sua impaciência com as coisas chatas,
seus poemas dependurados
na sala ampla de um casarão histórico,
e a sua ameaça, numa certa madrugada, de me negar sua amizade
se eu...

Eu prefiro me consumir nesse tempo
porque nele eu te procuro
para poder escrever sobre você
e aí eu vou, mesmo cheio de enganos, te achando aos poucos,
percebendo detalhes antes não percebidos,
imaginando como seriam os cabelos
se o penteado fosse outro,
como seria a boca se a cor do batom
fosse mais agressiva,
como seria seu corpo e que gosto teria
depois do sol e do sal da água do mar, enfim...

Tudo isso, mesmo parecendo muito, é tão pouco
porque você é mais complexa  que uma
tentativa de fazer um poema
e  mesmo que eu fosse um poeta de verdade
dificilmente eu saberia traduzi-la.

Na verdade, tentando fazer um poema
para presenteá-la no Natal,
o presenteado fui eu
nessa eternidade que passei pensando
em  quem conheço tão pouco
mas que já vale tanto
quanto vale uma dessas coisas boas e antigas
que a gente não sabia da existência
mas que existe,
como em algum desconhecido jardim
está a flor que não conhecemos
e nem sabemos da existência,
mas que é flor
é beleza
E só espera que a gente aprenda um dia a vê-la.
para finalmente existir para nós.


Feliz Natal!

Autor Convidado: Queniano

Um comentário:

Lucimara Fernandes disse...

Queniano,
Este foi,sem dúvida, o presente mais bonito e mais sensível que ganhei neste Natal!
ADOREI!!!
Obrigada!!
bjs