Outro dia um taubateano
Pobre e desamparado
Precisando com urgência
Receber algum cuidado
Esteve no pronto-socorro
E ficou decepcionado.
Levado por um vizinho
Chegou lá do Ipanema
Com o peito apertado
Respiração com problema
Já achando que São Pedro
Ia tirá-lo do esquema.
O homem passou a noite
E a manhã do outro dia
Deitado no corredor
Dividindo sua agonia
Com um outro paciente
Que como ele gemia.
Mas não somente os dois
Viviam essa humilhação
Em pleno pronto-socorro
Sem socorro e solução
Como se objetos fossem
E não fossem cidadãos.
Eram tantos os humilhados
Largados daquele jeito
Pelo corredor afora
E pelo espaço estreito
Onde coubesse uma maca
E não coubesse um direito.
Havia gente encolhida
Curtindo dor e aflição
Na amargura da espera
E não vendo solução
Rosto triste inclinado
Preso à sujeira do chão.
Se não bastasse a doença
Doendo na sua feiúra
Aquele prédio tão feio
Mal cuidado na estrutura
Chegava a dar impressão
De ser uma pré-sepultura.
E o homem se lembrou
Vivendo aquele momento
De um fato absurdo
Trágico acontecimento
De mortes ali ocorridas
Pelo mal atendimento.
A tragédia virou notícia
E acabou pegando mal
Pois a casa em questão
Fica num ponto central
Menos de trezentos metros
Da prefeitura local.
Sob a dor do abandono
Ao homem veio a certeza
De que gato ou cachorro
Recebem maior presteza
Em clínicas veterinárias
Que ficam na redondeza.
Pensou então que se fosse
De algum proprietário o cão
No corredor não ficaria
Quando sua respiração
Estivesse presa ao peito
Sufocando o coração.
Por certo teria alguém
Com extremada atenção
Rigoroso no horário
De sua medicação
Direito negado a ele
Mas conferido a um cão.
Mas que fazer se ele era
Um cidadão taubateano
Espécie tão acostumada
A viver tomando cano
Nesse tal pronto-socorro
Em qualquer dia do ano?
De que valia ser gente
Com direito assegurado
Se na hora da verdade
A lei é posta de lado
E até em pronto-socorro
Tem-se o direito negado.
E então avaliando
Sua saúde tão precária
O homem pediu ao vizinho
Uma coisa temerária:
Na próxima crise me interne
Numa clínica veterinária.
Autor Convidado: Silvio Prado
Um comentário:
Muito bom!
Antigamente dizíamos que no Pronto Socorro eramos tratados que nem cachorro. Hoje podemos dizer que o cachorro está sendo bem mais tratado que a gente. Dá vontade de ir para uma clínica Veterinária mesmo! Parabéns pela forma bem humorada de falar do descaso com a nossa Saúde.
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