DO CEMITÉRIO DE COISAS

Todas as coisas depois de nomes
Desprendem-se dos homens - seus donos -
E voltam a serem as coisas todas
Uma a uma com seu gosto de ferro

Seu hálito de ferrugem e a cor falha
Ah, a máquina como se humana fosse
Na medida em que se gasta
E o tempo de cada também passa

Então as coisas e cada coisa em si
Com sua chave seu sistema sua era
Tudo que a bem pouco se acreditou
Se vendeu se comprou e se perdeu

Assim objetos friamente identificados
De liquidificadores a ferros a vapores
Desalmados talvez dos seus criadores
Órfãos de impiedosos homens do futuro

Quem por eles falarão diante dos mortos?
Meu amor ouviu a gaivota sobre as águas
O sol iluminava de dourado no mar o sagrado
Uma arma um tiro além dos estertores

Do cemitério de coisas nem a ausência
De ossos nem a não-memória em dês-
Troços não haverá futuro dos seus
Fósseis não a arte e a posteridade

Triste toda vingança traça uma aliança
Nos disparos são penas e apenas a criança
Fere em si o dedo da estranha armadilha
Fragmentado entre os objetos de família

Autor Convidado: Guerá Fernandes

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