Nostalgia

Deixa-me antes, por fim, em nome de algum romance, viver para sempre e sempre tendo comigo algum “chiquê”, com aura de final do Século XVIII, dos lencinhos com pó de arroz manchado de carmim, do bom perfume francês o aroma de um querubim, e da música erudita e seleta de um maestro destinado a ser surdo, apesar dos felizes ombros de atleta. E na janela dos ‘fiacres’ duquesas, condessas e nobres cortesãos, por entre operas e festas, desfilam a exibir exclusivas antigas ganhadas caras jóias.

E os vidros, amigos antigos do emblema frontispício dos prédios de arquitetura com força, finura européia de ilusória tão leve beleza, brilhante refletindo auroras e ocasos diante também da massa faminta que marchando ousou derrubar a realeza...
Deixa-me deleitar-me a sonhar desvarios com sabor de vinho bom, todo rubro.

Deixai que me inebrie, a própria sedenta saliva da língua de silêncios e conversas, guardada e minha, rosto boca, como se eu fosse banheira de mármore de ‘carrara’ branco, que transbordando estivesse lotada de deliciosa champanhe francesa, e que alguma alegria carnal um pouco, por bem, me enlouqueça.

Tão antes dos automóveis era o sonoro trotar dos cavalos em meio a muitos novos livros sobre algum sonho que houvesse em meio ao verniso dos móveis.
Os homens não mais usando as incômodas, obrigatórias velhas brancas perucas.

Das mulheres, cabelos mais naturais ora soltos, ora presos em coque como presilhas e diademas, e vestidos à Antonieta, soltos e sem espartilho com mantos e leques lenços de seda, roupas fatais à paixão, igual disparando gatilho.

Deixa-me, Destino, assim em nome de meu romance do amor em armadilha que já agora me enreda, e antes que chegue o fim que acuse eu, as cores de tais emblemas!

Fanzine Lírico n° 64  
Autor Convidado: Hariarka Arkahare

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